Dados é uma das principais e mais longevas publicações nas ciências sociais no Brasil. Criada em 1966, divulga trabalhos inéditos e inovadores, oriundos de pesquisa acadêmica, de autores brasileiros e estrangeiros. Editada pelo IESP-UERJ, é seu objetivo conciliar o rigor científico e a excelência acadêmica com ênfase no debate público a partir da análise de questões substantivas da sociedade e da política.
Dados vol. 65 n. 3 Rio de Janeiro 2022-04-04 2022
Resumo
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é um certame em larga escala aplicado anualmente que recebeu, entre 2010 e 2016, mais de 48 milhões de inscrições. Nesse período, observa-se um crescimento considerável na presença de candidatos negros (pretos e pardos), cuja proporção passou de 51% para 60%. Este estudo visa investigar os componentes desse crescimento por meio de uma abordagem longitudinal, atenta à ocorrência de reclassificação racial. Nossos resultados mostram que cerca de um quinto dos inscritos altera sua declaração racial entre anos subsequentes. A análise de sobrevivência aponta uma tendência de elevação do conjunto de pardos, em detrimento dos brancos, e dos pretos, em detrimento dos brancos e dos pardos. Por meio de uma simulação contrafactual, mostramos que a reclassificação racial responde por aproximadamente dois terços do acréscimo na participação de pretos no período, tendo aumentando a presença destes em 8% entre os inscritos do Enem 2016.
Palavras-chave: análise de sobrevivência; autodeclaração; classificação racial; ensino superior; Exame Nacional do Ensino Médio
DOI: .1590/dados.2022.65.3.268
De Brancos para Negros? Uma Análise Longitudinal da Reclassificação Racial no Enem 2010-2016