Dados é uma das principais e mais longevas publicações nas ciências sociais no Brasil. Criada em 1966, divulga trabalhos inéditos e inovadores, oriundos de pesquisa acadêmica, de autores brasileiros e estrangeiros. Editada pelo IESP-UERJ, é seu objetivo conciliar o rigor científico e a excelência acadêmica com ênfase no debate público a partir da análise de questões substantivas da sociedade e da política.
Dados vol. 65 n. 3 Rio de Janeiro 2022-04-04 2022
Resumo
As guerras africanas têm sido amplamente descritas como um fenômeno apolítico, doméstico e localmente restrito. Todavia, tais narrativas não se sustentam após análises mais robustas de dados empíricos, mediante o uso de conceitos capazes de equilibrar generalidade teórica e particularidade dos casos. O défice analítico sobre as guerras na África dificulta inclusive a avaliação de suas causas, consequências e do impacto das respostas geralmente adotadas para as suas resoluções. Este artigo argumenta, em oposição a visões correntes, que as guerras existentes no continente e suas notórias complexidades e irregularidades constituem uma tríade securitária, sintetizada no conceito de Guerra Proxy Irregular Regionalizada. As causas e os efeitos sistêmicos desse modo africano de fazer a guerra estão relacionados, além de causas objetivas, a amplas causas permissivas, nomeadamente ao processo de construção do Estado no continente, envolvendo sua interação com as dinâmicas regionais e a penetração extrarregional. Respostas mais efetivas para guerra na África deveriam levar em conta essas características, suas causas e consequências, e considerar o papel de ações mais sustentáveis, tais como reformas autofortalecedoras dos Estados e o envolvimento de iniciativas regionais mais vigorosas.
Palavras-chave: guerra; África; guerra irregular; guerra proxy; segurança regional
DOI: .1590/dados.2022.65.3.271
O Modo Africano de Fazer a Guerra: A Guerra Proxy Irregular Regionalizada