Dados é uma das principais e mais longevas publicações nas ciências sociais no Brasil. Criada em 1966, divulga trabalhos inéditos e inovadores, oriundos de pesquisa acadêmica, de autores brasileiros e estrangeiros. Editada pelo IESP-UERJ, é seu objetivo conciliar o rigor científico e a excelência acadêmica com ênfase no debate público a partir da análise de questões substantivas da sociedade e da política.
Dados vol. 63 n. 4 Rio de Janeiro 2020-11-13 2020
Resumo
Neste artigo, eu ofereço um deslocamento da imagem metafísica de Carl Schmitt de uma época específica e da maneira como ele forja uma construção particular do planeta, que revela traços arquitetônicos de um enquadramento normativo que autoriza e legitima um modo específico de conceber a forma apropriada de organização política do mundo. Inspirado no trabalho de Jacques Derrida, desloco o tradicional dualismo amigo/inimigo de Schmitt em direção ao mar e à posição-limite (pós-)estrutural conceitual do pirata. Adotando uma estratégia desconstrucionista derridiana, questiono o modo como Schmitt conceitualmente (auto-)autoriza sua ordem (e ordenação) conceitual, identificando alguns espaços, ações e categorias de sujeitos como não- políticos. Negativamente, eu argumento, essas construções não- políticas, esses forasteiros constitutivos , autorizam conceitualmente a linha que torna possível a conceitualização e identificação do político. Ao ler Schmitt a partir do mar, eu convido o leitor a repensar os limites de nossa imaginação política cartográfica, os limites de nossa linguagem conceitual normativa e as maneiras pelas quais formas excepcionais de violência podem ser articuladas, autorizadas e legitimadas conceitualmente.
Palavras-chave: Carl Schmitt; Jacques Derrida; pirata; forasteiros constitutivos; o político
DOI: .1590/dados.2020.63.4.222
Lendo Schmitt a partir do Mar: Rastreando os “Forasteiros Constitutivos” e Deslocando a Ordem Conceitual (e a Ordenação) do Político