Dados is one of the most widely-read social sciences journals in Latin America. Created in 1966, it publishes innovative works, originating from academic research, by Brazilian and foreign authors. Edited by IESP-UERJ, it aims to reconcile scientific rigor and academic excellence with an emphasis on public debate based on the analysis of substantive issues of society and politics.
Como são forjados os símbolos nacionais? O que faz com que possamos identificar em símbolos aleatórios um sentido de pertencimento a uma nação? Essas perguntas atravessam a história das ciências sociais ao menos desde a segunda metade do século XIX. Uma das formas de abordá-las é pensar sobre seus criadores, entendendo a identidade nacional não como algo natural, intrínseco a um povo, mas como uma obra, um processo de construção no qual se envolvem agentes e instituições. Esse entendimento nos permitiu entender o papel dos intelectuais no forjamento dos símbolos nacionais brasileiros no começo do século XX em um momento no qual o Estado-nação tinha o monopólio de sentido da identidade nacional e no qual a nação se produzia internamente ao espaço nacional.
O artigo “A Memória Nacional Globalizada: As Condições Sociais de Produção Simbólica da Nação” repete as perguntas clássicas, mas assume que elas devem ser respondidas agora levando-se em consideração um novo contexto. Partindo de análises empíricas feitas, em especial, durante a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o autor propõe que a globalização modifica a forma de produção simbólica da nação. Em seu texto é demonstrado que, ao contrário de algumas análises da década de 1990, a nação não desaparece na globalização; ao contrário, a nação forma seu imaginário. Em qualquer lugar que estamos, ao mesmo tempo em que somos expostos a símbolos desterritorializados também somos expostos a conjunto infinito de símbolos nacionais. Como o autor afirma no texto, “Uma pessoa que viaja pelo mundo espera encontrar, especialmente nas cidades globais, uma série de símbolos desterritorializados: pessoas que falam inglês, aeroportos com certos sinais e rotinas, determinados padrões de hotéis, certo conhecimento de astros do pop, de celebridades globais e de filmes de Hollywood, etc. Mas também espera encontrar um restaurante chinês, um “típico” dine-inn norte-americano que sirva hambúrgueres, uma loja de mangás, uma feira com um estande de roupas indianas e outro com sessão de música brasileira. E isso independente de estar na China, nos Estados Unidos, no Japão, na Índia ou no Brasil.”
Isso significa que a produção da nação se desloca. Agora, ela não se dá exclusivamente no espaço nacional, sob monopólio do Estado-nação, mas em fluxos globais. O autor argumenta, assim, que surgem memórias nacionais que são compartilhadas globalmente, ou seja, um conjunto de símbolos nacionais que não são mais ligados a um espaço nacional, mas que forma nossa própria memória coletiva global. Essa noção permite que o autor investigue quem são os artífices dessa memória nacional globalizada e quais os meios de sua produção. Com base em sua pesquisa empírica, o autor demonstra que essa memória tem nas indústrias culturais e na cultura de consumo um novo e primordial meio de propagação. Ainda, o texto nos apresenta os artífices transnacionais, especialistas em produção simbólica da nação, tais como publicitários de marca-nação, diretores de obras audiovisuais, arquitetos de obras em megaeventos, chefes de cozinha, etc.
NICOLAU, M. A Memória Nacional Globalizada: As Condições Sociais de Produção Simbólica da Nação. Dados [online]. 2021, vol.64, no.03 [viewed 27 September 2021]. https://doi.org/10.1590/dados.2021.64.3.241. Available from: http://ref.scielo.org/2xx8wp
Dados – Revista de Ciências Sociais: www.scielo.br/dados
Michel Nicolau Netto: https://www.ifch.unicamp.br/ifch/colaboradores/pos-sociologia/638/Michel-Nicolau-Netto
Página Institucional do Periódico: http://dados.iesp.uerj.br/
Este texto foi originalmente publicado na semana especial SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021. Disponível em: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/09/28/remodelando-simbolos-nacionais-durante-a-copa-do-mundo-de-futebol-de-2014-e-as-olimpiadas-de-2016/#.YZej773MK3I
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