Dados é uma das principais e mais longevas publicações nas ciências sociais no Brasil. Criada em 1966, divulga trabalhos inéditos e inovadores, oriundos de pesquisa acadêmica, de autores brasileiros e estrangeiros. Editada pelo IESP-UERJ, é seu objetivo conciliar o rigor científico e a excelência acadêmica com ênfase no debate público a partir da análise de questões substantivas da sociedade e da política.
Dados vol. 61 n. 2 Rio de Janeiro abr./jun. 2018
Resumo
Após a abolição, o reconhecimento da nova condição social de livres para ex-escravos e seus descendentes incluía a criação de novas identificações. Entre elas, a manipulação do antigo nome era essencial para a reafirmação da liberdade. O presente artigo procura explorar as redefinições de nomes utilizados por libertos de São Carlos, um dos principais centros da economia cafeeira na virada do século XIX para o século XX. Orientadas principalmente pelo desejo de formalização das suas relações afetivas, incluindo-se aí estratégias de se formalizar relações que lhes fossem úteis, essas renomeações são um registro ímpar de como os ex-cativos avaliaram, durante o pós-emancipação, as alianças familiares que firmaram ainda no cativeiro, bem como a afirmação de suas identidades. Por meio da coligação de fontes nominativas, especialmente com a utilização de registros paroquiais e de um recenseamento municipal, busca-se analisar a heterogeneidade de laços sociais constituídos por escravos e libertos, demonstrando como a “economia onomástica”, para além de uma questão de identificação individual, era, no pós-abolição, um elemento chave paras as lutas simbólicas que demarcavam a nova posição social dos libertos.
Palavras-chave: pós-abolição; capital social; nomes próprios; economia onomástica; ex-escravos.
Renomear para Recomeçar: Lógicas Onomásticas no Pós-abolição