Dados é uma das principais e mais longevas publicações nas ciências sociais no Brasil. Criada em 1966, divulga trabalhos inéditos e inovadores, oriundos de pesquisa acadêmica, de autores brasileiros e estrangeiros. Editada pelo IESP-UERJ, é seu objetivo conciliar o rigor científico e a excelência acadêmica com ênfase no debate público a partir da análise de questões substantivas da sociedade e da política.
Dados vol. 60 n. 2 Rio de Janeiro abr./jun. 2017
Resumo
Neste artigo propomos uma análise do trabalho doméstico não remunerado a partir da conjunção de duas perspectivas: a da estratificação social e a da economia doméstica. Para tal desenvolvemos uma escala de estratificação residencial, construída a partir do emprego da teoria da resposta ao item para a coleção dos bens empregados na produção doméstica em cada domicílio participante da Pesquisa de Usos do Tempo de Belo Horizonte. A utilização dessa escala possibilita, por um lado, a valoração de atividades não remuneradas no âmbito doméstico e da ocupação de “dona de casa”, e por outro, o estudo da divisão sexual do trabalho por estrato social. A solidez da escala é indicada pela correlação extremamente alta entre ela e uma escala idêntica, construída a partir de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, assim como pela correlação relativamente alta com outros índices de estratificação baseadas na ocupação dos indivíduos. Os principais resultados indicam, de um lado, a persistência da divisão sexual do trabalho em todos os estratos socioeconômicos, e, de outro, uma baixa correlação negativa entre status e tempo de cuidados domésticos, exceto para os homens durante fins de semana, quando a relação se torna positiva.
Palavras-chave: trabalho doméstico; divisão sexual do trabalho; estratificação residencial; teoria da resposta ao item; usos do tempo.
Estratificação Residencial, Valoração do Trabalho Doméstico e Uso do Tempo: Contribuições para a Análise do Caso do Brasil