Semana SciELO [DADOS: transparência, desigualdades e divulgação]

Luiz Augusto Campos (Editor-chefe, DADOS) e Marcia Rangel Candido (Editora assistente, DADOS)


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Fundada em 1966, DADOS completa 55 anos em 2021 com conquistas e desafios proporcionais à sua história. Pioneira na adoção da revisão duplo-cega por pares dentro das ciências sociais brasileiras, a revista hoje se apropria de novas formas de gestão editorial, próprias do programa da Ciência Aberta. Porém, mais do que incorporar mecanicamente tais novidades, nossa preocupação tem sido experimentá-las de modo criativo, sempre tendo em vista a potencialização de nossa missão: publicar trabalhos originais e sistemáticos que dialoguem com os grandes debates da Sociologia, Ciência Política e Relações Internacionais.

Por tudo isso, recebemos com animação o convite para participar da Semana Especial do Blog Scielo em Perspectiva Humanidades. Trata-se de uma oportunidade valiosa para apresentarmos não apenas os artigos que estamos publicando, mas também as mudanças editoriais recentemente adotadas por nós.

Aderimos em 2019 ao fluxo contínuo de publicação, o que dinamizou nossos processos editoriais e permitiu adiantar para este ano o lançamento dos primeiros artigos do volume previsto para 2022. Paralelamente, criamos uma curadoria de bases de dados e programas com vistas a garantir a maior reprodutibilidade possível das análises feitas nos trabalhos que veiculamos, tudo em consonância com nossa história de incentivo ao rigor metodológico. Esse tema é, aliás, objeto de estudo de um artigo publicado em DADOS sobre o grau de transparência e replicação de pesquisas brasileiras da área de Ciência Política. Mais recentemente, abrimos a revista à submissão de manuscritos previamente disponibilizados em servidores de preprints, talvez o mais ousado experimento editorial dos nossos tempos.

Implementamos tudo isso em meio a uma pandemia, que acentuou diversas desigualdades sociais dentro e fora da produção científica. Em resposta, reforçamos nosso compromisso com a equidade acadêmica. Embora tenha ocorrido em meados de 2020 um pico de submissões em DADOS, a proporção de textos assinados por mulheres caiu em termos comparativos ao desempenho dos homens. Além de um trabalho de divulgação dessas desigualdades, iniciamos um processo de estímulo do envio de artigos de autoria feminina, adicionando também ao nosso formulário de submissão uma questão sobre raça e gênero de todos os pesquisadores envolvidos na pesquisa. Ainda que as assimetrias sejam profundas no âmbito das publicações em ciências sociais, esperamos contribuir com a produção de dados capazes de alertar a comunidade acadêmica para tais questões e, no limite, mitigá-las.

O crescimento do trabalho remoto e da digitalização de nossas atividades durante a pandemia também demandou esforços adicionais no campo da divulgação científica da revista. Estamos presentes hoje nas mais importantes redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram), o que fez crescer muitos dos índices altimétricos e da repercussão na imprensa de DADOS. As métricas de impacto, por seu turno, alcançaram uma estabilidade geral, resultado do esforço contínuo de anos pregressos.

Todavia, os desafios que enfrentamos não são apenas científicos, mas também políticos. Criada dois anos após o golpe militar que inaugurou uma longa ditadura no país, DADOS enfrenta, junto à ciência brasileira como um todo, um novo cenário de fechamento político. A perseguição ao trabalho que realizamos já ultrapassou há muito tempo o mero discurso, atingindo instituições, personalidades e, sobretudo, o fomento à ciência, que encontra atualmente um de seus menores níveis históricos.

Mas se as ciências sociais costumam ser as primeiras áreas do conhecimento ameaçadas em momentos políticos autoritários, é delas que provêm parte das respostas intelectuais mais relevantes para compreender e reagir a esses momentos. Nesse espírito, que nos marca desde o berço, a equipe de DADOS espera seguir contribuindo para divulgar pesquisas sistemáticas sobre nossos problemas sociais e políticos, comprometidas com o avanço debate público, do livre pensar e, especialmente, da democracia.

Os textos que serão divulgados no decorrer desta semana contribuem cada qual ao seu modo com esses valores. Os temas são variados, abrangem das causas da violência urbana na Costa Rica à percepção de jovens sobre partidos ecológicos no Brasil, à relação entre prefeitos e vereadores, passando pela atuação de organizações sindicais contra grandes empresas, ou a proposição de teorias sociológicas para analisar a América Latina, assim como a investigação da construção de símbolos nacionais e a transnacionalização da agricultura familiar brasileira. Todos eles são oriundos de pesquisas inovadoras no âmbito teórico, metodológico e/ou empírico, além de se conectarem a debates sociais e políticos contemporâneos.

Encerramos 2021, portanto, buscando a popularização de trabalhos de grande relevância para as ciências sociais. Nos demais artigos das edições deste ano, leitores(as) também poderão encontrar a pluralização de países, tanto no que diz respeito às realidades estudadas em cada texto, quanto em relação à procedência dos autores(as). É mais um dos objetivos de DADOS estimular e expandir a internacionalização da comunidade científica especializada no escopo temático que a revista publica. Para isso, além de fomentar diálogos com pesquisadores/as estrangeiros/as, solicitando pareceres, investindo em traduções e circulando informações sobre a publicação, aceleramos os processos editorais e buscamos igualar nossos trâmites aos parâmetros globais de qualidade em periódicos.

 

Este texto foi originalmente publicado na semana especial SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021. Disponível em: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/09/27/dados-transparencia-desigualdades-e-divulgacao/#.YZea2r3MK3I

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