Dados é uma das principais e mais longevas publicações nas ciências sociais no Brasil. Criada em 1966, divulga trabalhos inéditos e inovadores, oriundos de pesquisa acadêmica, de autores brasileiros e estrangeiros. Editada pelo IESP-UERJ, é seu objetivo conciliar o rigor científico e a excelência acadêmica com ênfase no debate público a partir da análise de questões substantivas da sociedade e da política.
Luiz Augusto Campos, Marcia Rangel Candido e Giovanna Monteiro-Macedo
A equipe de DADOS tem a felicidade de anunciar os vencedores da primeira edição do Prêmio Charles Pessanha de Artigos Acadêmicos. Criado em homenagem ao professor Charles Pessanha, editor emérito da revista e figura decisiva na institucionalização da editoração científica no Brasil, o prêmio reconhece anualmente os melhores artigos publicados em DADOS nas áreas de “Sociologia” e “Ciência Política ou Relações Internacionais”, focos da revista.
Nesta edição inaugural, concorreram ao prêmio todos os textos que integraram o volume 67 do ano de 2024 da revista, que totalizam 34 artigos. A escolha dos artigos buscou contemplar diferentes dimensões de excelência acadêmica, como a originalidade da contribuição, o rigor metodológico, a relevância social e o impacto do trabalho.
Mais do que um reconhecimento individual, o prêmio reafirma o compromisso de DADOS com a qualidade, a diversidade e o alcance público da produção científica. Ao dar o nome de Charles Pessanha à premiação, celebramos não apenas um editor, mas um intelectual cuja trajetória se confunde com a história de nossa própria revista.
Um dos pioneiros da consolidação da editoração científica no Brasil, Pessanha é uma referência viva na memória da equipe de DADOS. Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre pelo antigo Iuperj, ele foi militante político perseguido pela ditadura civil-militar durante os anos 1960. Na década de 1970, ele encontrou na universidade um espaço de liberdade intelectual ao qual dedicou sua carreira. Em 1976, assumiu a editoria de DADOS, função que exerceu por mais de três décadas, período em que instituiu práticas como a avaliação por pares e a periodicidade nas publicações, fazendo avançar também debates fundamentais sobre ética e profissionalização da carreira de editor(a).
Na área de editoria científica, Charles Pessanha tem ainda marcos como a participação na fundação da Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC) e a colaboração fundamental na criação da plataforma SciELO, que promove o acesso aberto e a internacionalização do conhecimento produzido na América Latina. Embora defendesse o maior reconhecimento da profissão de editor científico, Pessanha sempre trabalhou em todas as frentes de desenvolvimento intelectual da universidade. Sua colaboração não se restringiu às revistas e se concretizou na docência, como no cargo de Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e na investigação, ao orientar gerações de estudantes. Com o Prêmio Charles Pessanha, celebramos seu legado acadêmico tanto para reafirmar a importância da editoria científica profissionalizada quanto para ressaltar a qualidade das pesquisas científicas nas ciências sociais. Mais informações sobre a trajetória e o legado de Charles Pessanha, confira aqui: https://iesp.uerj.br/nota-de-pesar-charles-pessanha/
Abaixo, indicamos os premiados desta edição nas áreas de Sociologia e Ciência Política, que foram selecionados a partir da avaliação de nossa editoria, nomeadamente Luiz Augusto Campos, Marcia Rangel Candido, Adalberto Cardoso, Ana Paula Tostes, Bruno Schaefer, José Leon Szwako e Paulo Henrique Cassimiro. Agradecemos aos editores e editoras pelo empenho nesta tarefa, assim como às demais integrantes de nossa equipe. Agradecemos também aos pareceristas que têm colaborado com o rigor de DADOS e ao público que nos acompanha.
Boa leitura!
“Entre a Desinstitucionalização e a Resiliência: Participação Institucional no Governo Bolsonaro”
Autoria: Carla de Paiva Bezerra, Débora Rezende de Almeida, Adrian Gurza Lavalle e Monika Dowbor
Resumo: Nosso objetivo é caracterizar a desinstitucionalização impulsionada pelo governo Bolsonaro e aferir seus alcances sobre os conselhos. Oferecemos um diagnóstico empírico da situação regulatória de 103 colegiados nacionais, a partir de base de dados original. Argumentamos que as medidas do governo não geram efeitos homogêneos e que variam em função de dois fatores: i) aspreferências do governo em relação aos conteúdos das políticas públicas; ii) a resiliência dos conselhos. A resiliência, é resultado da combinação de duas dimensões, desenvolvidas em uma tipologia analítica: o desenho institucional e sua inserção nas respectivas comunidades de políticas. Concluímos que os conselhos mais afetados em seu funcionamento estão relacionados às políticas cuja pauta é contrária àquela do governo Bolsonaro e que possuem menor resiliência, considerada em suas duas dimensões. Proporcionalmente, meio ambiente foi a área mais atingida pela revogação. Já direitos humanos e políticas sociais sofreram mais alterações substantivas. Por sua vez, a área de desenvolvimento econômico e infraestrutura foi a menos afetada, face ao maior alinhamento com as preferências do governo, mesmo contando com colegiados com menor resiliência.
Leia o artigo completo em: https://doi.org/10.1590/dados.2024.67.4.339
Conheça mais sobre o artigo no episódio especial do Podcast DADOS
“OLIVA: La Producción Científica Indexada en América Latina. Diversidad Disciplinar, Colaboración Institucional y Multilingüismo en SciELO y RedALyC (1995–2018)”
Autoria: Fernanda Beigel, Abel L. Packer, Osvaldo Gallardo e Maximiliano Salatino
Resumo: Este artigo apresenta os resultados do Observatorio Latinoamericano de Indicadores de eVAluación (OLIVA) que visa visibilizar e valorizar a produção científica indexada na América Latina e Caribe. O trabalho aborda a produção em acesso aberto das revistas indexadas no SciELO e Redalyc, com base na consolidação de uma única base de dados, com o número total de 1.720 revistas (de 15 países), 908.982 documentos e 2.591.704 autores/as. Também analisa a diversidade disciplinar e as tendências da colaboração nacional e internacional. Por fim, apenas para o caso do Brasil e da SciELO, analisa-se a colaboração intranacional. O estudo conclui que há um predomínio das revistas diamante, das como instituições editoras universitárias e de formas de circulação a multiescalar. Estas caraterísticas, mesmo assim a diversidade linguística e disciplinar, podem contribuir de forma muito eficaz para as necessidades atuais de comunicação científica em tempos de ciência aberta.
Leia o artigo completo em: https://doi.org/10.1590/dados.2024.67.1.307
Conheça mais sobre o artigo no episódio especial do Podcast DADOS.
Tags:divulgação científica, Premio Charles Pessanha