Dados é uma das principais e mais longevas publicações nas ciências sociais no Brasil. Criada em 1966, divulga trabalhos inéditos e inovadores, oriundos de pesquisa acadêmica, de autores brasileiros e estrangeiros. Editada pelo IESP-UERJ, é seu objetivo conciliar o rigor científico e a excelência acadêmica com ênfase no debate público a partir da análise de questões substantivas da sociedade e da política.
O Cientista Político Ivo Coser realiza uma investigação dos conceitos de Liberdade no campo do Pluralismo de Valores, e na Teoria Política. Tal investigação tem como pano de fundo as tensões presentes nas sociedades contemporâneas. Dentre os vários problemas atuais, um carrega uma forte carga de tensão: os conflitos entre as concepções de boa vida. Fins alicerçados em princípios religiosos, hedonistas, racionais, utilitários, dentre outros encontram-se em conflito aberto. Na contemporaneidade desvaneceu-se qualquer esperança em um fim que abarque todos os demais numa síntese apaziguadora. Tal esperança que alimentou expectativas utópicas nos séculos anteriores, desapareceu de cena. Nesse contexto político e teórico é possível fundamentar a Liberdade acatando a diversidade de fins e seus conflitos? É para esse problema que o artigo “Uma Reinterpretação das Liberdades Negativa, Positiva e de Escolha” (vol. 53, n.1) pretende oferecer uma contribuição.
Para tanto, o artigo percorre o conjunto da obra de Isaiah Berlin, e, dos Pluralistas, que a tomaram como ponto de partida. Esse esforço revela que a ideia central que orienta a obra de Berlin consiste no seguinte: o sujeito na sua vida ordinária encontra fins distintos e razoáveis, que, em certas circunstâncias, o forçam a escolher. Desse modo, essa escolha possui um caráter trágico, na medida em que existem fins que são relevantes para a condição humana, mas não são compatíveis. É essa ideia que confere sentido às Liberdades Negativa e Positiva. A Liberdade Negativa fornece os muros que devem proteger o sujeito no seu processo de escolha, mas os fins escolhidos decorrem do fato do sujeito se considerar como seu Senhor, de chamar para si o ato da escolha. Se tomarmos a ideia de diversidade de fins razoáveis e conflitivos e a necessidade de escolha, então a oposição radical entre os dois conceitos não é pensada como inevitável, mas como uma possibilidade. Ambos os conceitos trazem elementos e valores que são fundamentais para a Liberdade de Escolha.
Se reconhecermos a diversidade de fins, como um elemento pertinente da modernidade, o conceito de Liberdade de Escolha entre fins diversos e conflitivos recebe relevância. A partir dessa ideia passamos a considerar que os arranjos político sociais devam propiciar aos sujeitos condições para que exerçam a Liberdade de Escolha. O artigo convida o leitor e a leitora a percorrerem as ideias de Berlin e dos Pluralistas, com o intuito de que venham a dispor de conceitos que lhes permitam lidar com os temas complexos da nossa contemporaneidade.
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